Parcerias promovidas pela Fundação de Apoio à Pesquisa Tecnologia e Inovação (FAPETI) tem gerado, no Laboratório de Análise de Solos da Universidade de Taubaté (UNITAU), estudos sobre a criação de fertilizantes para uso na agricultura à base de pó de rochas. Desde que tiveram início, as ações apoiadas pela FAPETI já atenderam duas empresas paulistas de mineração que passaram a dar destino sustentável ao pó de rocha proveniente de seus processos de produção.
A primeira empresa beneficiada foi a Mineração Rio do Braço, da cidade de Lavrinhas, que firmou convênio de cooperação e intercâmbio técnico, científico e educacional com a FAPETI em 28 de agosto de 2014. A parceria abrangeu atividades de pesquisa e desenvolvimento do “potencial do uso do pó de rocha Nefelina Sienito como fertilizante agrícola”.

Prof. Julio Raposo com as amostras de pó de rocha
Sob a liderança do prof. Dr. Julio Cesar Raposo de Almeida, que coordena o Laboratório de Análise de Solos, o primeiro projeto decorrente do convênio com a FAPETI desenvolveu, entre 2014 e 2018, sete experimentos que reaproveitaram o pó gerado na produção de pedra britada na Mineração Rio do Braço. “Esse pó de rocha possui uma série de elementos que podem ser usados na nutrição de plantas”, relatou prof. Julio Raposo.
A segunda empresa foi a Mineração Embu, que tem unidades nas cidades de Embu das Artes e Mogi das Cruzes, também se interessou pelo estudo. “Essa empresa trabalha com uma rocha que contém um mineral chamado biotita. Eles separaram o material e nos trouxeram para testar a viabilidade do produto como remineralizador de solo”, disse o pesquisador.
No processo de busca por remineralizadores de solo, que são insumos minerais que melhoram a fertilidade do solo pela adição de nutrientes, a pesquisa Prof. Julio Raposo com as amostras de pó de rocha encontrou potássio que pode ser aproveitado pelas plantas. “Pegamos a biotita, estabelecemos doses, incubamos no solo e plantamos diversas culturas. A primeira foi a soja e depois usamos a braquiária, que é uma planta forrageira, muito mais rústica. Então avaliamos a produtividade”, explicou o docente.



O pó de rocha (esq.) faz parte de composto (centro) usado para a germinação das plantas (dir.)
Parcerias com a FAPETI geram produções científicas

FAPETI apoia a reforma da estufa da Fazenda-piloto, permitindo a ampliação das pesquisas com o pó de rocha
Os dois projetos apoiados pela FAPETI geraram trabalhos de iniciação científica, artigos científicos e uma dissertação defendida em 2024 no mestrado em Ciências Ambientais da UNITAU. Elaborada por Luís Fernando de Sousa Oliveira, com a orientação do prof. Dr. Julio Cesar Raposo de Almeida, “Caracterização de compostos orgânicos enriquecidos com pós de rocha” avaliou o efeito da adição de diferentes pós de rocha na compostagem de resíduos orgânicos sobre a qualidade final do composto. Neste estudo, o mestrando misturou pós de rocha com cama de ovelhas, material usado nos locais onde repousam esses animais na Fazenda-piloto do Departamento de Agronomia da UNITAU. “O produto que ele desenvolveu é um fertilizante organomineral – uma mistura de composto orgânico rico em minerais de pó de rocha”.
Prof. Raposo explica ainda que, a partir da caracterização dessas rochas e da avaliação da quantidade de nutrientes que elas contêm, foi possível gerar um novo produto para ser colocado no solo. “Colocaremos esses produtos à prova e avaliar o quanto a planta consegue absorver”, disse o docente. Outra pesquisa que surgiu dos estudos sobre pó de rocha é de Pâmela Terumi Hayashi Martins, que apresentou em 2021 dissertação no mestrado em Ciências Ambientais com o título “Crescimento de Urochloa humidicola e fertilidade do solo em função da aplicação de fertilizantes potássicos, de biotita e filler de gnaisse”.
Para o prof. Raposo, as pesquisas com pó de rocha, além de oferecer à agricultura uma opção de produto de origem nacional, possibilita o reaproveitamento de resíduos. “É uma maneira mais sustentável de promover o ciclo da economia girando. Destinamos ainda, de forma sustentável, um produto que poderia ser um problema, hoje está disponível ao produtor como uma fonte alternativa de nutrientes”,

Rochas usadas no Laboratório de análise de Solos da Universidade de Taubaté
Pesquisas atendem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
Criadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), as ODS propõem acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade. Ao todo são 17 objetivos interconectados que abordam os principais desafios do desenvolvimento enfrentados no Brasil e no mundo.

As pesquisas sobre pós de rocha do Laboratório de Análise de Solo atendem a ODS 2, “Fome zero e agricultura sustentável”, que visa erradicar a fome, alcançando a segurança alimentar, melhorando a nutrição e promovendo a agricultura sustentável.
Já a ODS 4, que trata da “Educação de qualidade” e busca “garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos”, está relacionada às pesquisas científicas que envolvem alunos e professores de mestrado em Ciências Ambientais da UNITAU.


Destaca-se ainda a ODS 15, “Vida terrestre”, que propõe “proteger, restaurar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, travar e reverter a degradação dos solos e travar a perda da biodiversidade”. No caso das pesquisas, esse propósito é atendido na inclusão, em uma ação voltada ao plantio de culturas agrícolas, de um resíduo que não teria aproveitamento e seria descartado.
Por fim, atende-se a ODS 17, que tem por foco as “Parcerias e meios de implementação” que correspondem à revitalização e a parceria global para o desenvolvimento sustentável. É neste quesito que a FAPETI é incluída, uma vez que é pelo apoio à pesquisa, à tecnologia e a inovação que a fundação da Universidade de Taubaté desenvolve seu papel e promove a ciência.
Por L. C. Galvão Junior (Jornalista Profissional – MTb 25.492)
